Projetos

futuros

Autores:

Joana Jardim, Interna de Formação Específica em Pediatria,

Paulo Fonseca, Assistente Hospitalar Graduado em Pediatria

Hospital Pediátrico – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

Introdução

A adolescência é uma fase da vida com diversos marcos importantes. Para além de estar associada ao desenvolvimento biopsicossocial do ser humano, está temporalmente associada à tomada de decisões importantes, quer do ponto de vista académico, como também cultural, moral, etc., as quais poderão influenciar significativamente a vida futura dos indivíduos.

Projetos futuros

Os “Projetos Futuros” são, inquestionavelmente, no nosso quotidiano, um tema de importância crescente para adolescentes, suas famílias e para a sociedade no geral.

Uma vez que a escolaridade obrigatória, em Portugal, apenas termina ao chegar à maioridade dos 18 anos ou ao completar, com êxito, o 12º ano de escolaridade, o projeto académico de qualquer jovem vai ganhando visibilidade à medida que este cresce e se aproxima da maioridade, sendo também de valorizar os eventuais projetos artísticos, culturais ou desportivos sólidos, associados ao projeto académico.  

Para qualquer projeto, independentemente da sua natureza, importa mais como termina, do que como começa, mas naturalmente que não se resume a essa “reta final”…, sendo essencial que a criança, ao longo dos primeiros anos de ensino (1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico), se vá sentindo bem na escola, confiante, motivada e bem integrada, com pais, ou outras figuras parentais, atentas à sua evolução, adaptação e ao cumprimento de metas satisfatórias de aprendizagem e desempenho.

Já numa fase de projeção futura, em que os adolescentes necessitam de fazer opções curriculares importantes, existem alguns momentos “chave” para os quais devem estar/ser preparados e para os quais poderão necessitar de alguma orientação/apoio. Esses momentos relevantes serão: o 3º ciclo do ensino básico (7º, 8º e 9º ano) e a escolha do curso secundário a frequentar (seja ensino regular ou profissional); o curso secundário e o momento da candidatura ao ensino superior ou a procura/início da atividade laboral.

O 3º ciclo do ensino básico (7º, 8º e 9º anos) …

Trata-se de um período importante para o abrir de horizontes e para a perceção das áreas de maior gosto (daí a necessidade de contemplar tantas disciplinas, temáticas e áreas do saber…). É também, importante que o adolescente, durante este período, seja exposto a outro tipo de estímulos e possa desenvolver atividades extra-curriculares, do seu gosto, que lhe deem prazer, permitindo um horizonte mais alargado sobre as suas preferências/competências, para que possa ir construindo, de forma ponderada, as suas ideias sobre o seu percurso do ensino secundário.

Nesta fase, é também importante o treino de hábitos e métodos de estudo (ver Tabela 1), os quais serão depois essenciais para que o seu percurso no secundário seja mais eficaz e menos ansiogénico, com o objetivo de melhor se preparar para o acesso ao ensino superior e/ou para a entrada no mundo do trabalho.

A escolha do curso do ensino secundário …

Esta é a primeira verdadeira decisão que os adolescentes têm que tomar, na sua vida “académica”. Desejavelmente, deve ser uma decisão ponderada, informada, pessoal e, essencialmente, de acordo com os seus gostos particulares, podendo ainda ter em conta os objetivos e planos de vida que o adolescente possa já ter neste momento. Aqui, é preciso atender às temáticas que mais goste de estudar e/ou aprender, tendo em conta não só o gosto e aptidão pessoal, mas também a vontade, ou não, de vir a ingressar no ensino superior.

Na prática, a primeira decisão do curso do ensino secundário vai ser a escolha de um de dois percursos distintos: o ensino regular ou o ensino profissional.

Aquando desta escolha, o profissional de saúde deve também orientar e gerir expectativas de pais e filhos, para que os objetivos e metas traçadas sejam realistas, de acordo com os interesses e aptidões dos adolescentes.

O ensino regular tem como principal objetivo o capacitar os estudantes para o ingresso no ensino superior (universitário ou politécnico).

Nesta via de ensino existem quatro cursos Científico-Humanísticos disponíveis: Ciências e Tecnologia; Ciências Socioeconómicas; Línguas e Humanidades; e Artes Visuais.

Em qualquer destes quatro cursos existirá a componente de formação geral, comum a todos, a componente de formação específica, a qual contempla um conjunto de disciplinas complementares, diferentes em função do curso em causa, e a disciplina de Educação Moral e Religiosa, de frequência facultativa.

A consulta detalhada dos planos de estudo possíveis para cada curso, pode ser realizada através do link: http://www.dge.mec.pt/cursos-cientifico-humanisticos.

O ensino profissional abrange um leque variado de opções formativas, em diversas instituições, e tem como principal objetivo preparar o estudante para o ingresso no mercado de trabalho (https://anqep.gov.pt/np4/cursos_profissionais.html). Inclui, pelo menos, um período de estágio profissional, habitualmente no último ano de ensino e, após concluído o curso, o jovem pode optar por ingressar no mercado de trabalho ou candidatar-se ao ensino superior. No entanto, aqueles que frequentem um curso do ensino profissional e decidam ingressar no ensino superior, atempadamente, terão de ter em conta a necessidade da realização de exames nacionais de ingresso, conforme as regras que se encontram, atualmente, em vigor (https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/provas-de-ingresso) e deverão planear a preparação para os mesmos.

Durante o 9º ano, o adolescente e as famílias, poderão optar pela realização de testes psicotécnicos / vocacionais, os quais podem ajudar os mais indecisos a definir quais as áreas de maior interesse/aptidão pessoal. Caso estes testes não possam ser realizados nas escolas (disponibilidade limitada em muitas escolas…), podem ser realizados através da consulta de Psicólogos especialistas em orientação vocacional ou através de plataformas online disponíveis para o efeito. No final, independentemente do resultado da avaliação vocacional, da opinião dos pais (ou outros cuidadores) ou dos professores, a escolha do curso secundário deverá ser sempre uma decisão pessoal do próprio adolescente, porque só desta forma poderá lidar, de forma adequada, com as expectativas e/ou frustrações que essa escolha possa vir a envolver.

O ensino secundário …

O “salto” a que corresponde esta passagem do ensino básico para o secundário, é uma importante, e difícil, etapa da vida dos adolescentes. Muitos não têm logo esta perceção, iniciando o 10º ano de forma demasiado descontraída/despreocupada, como se estivessem apenas numa continuação dos anos anteriores … o que não é, de facto, o caso… O ritmo de trabalho, e o empenho nas tarefas, terá que ser, necessariamente, superior no ensino secundário, o que muitas vezes se faz refletir nas descidas das notas de muitos alunos. Por outro lado, eventuais patologias não diagnosticadas (como a PHDA, a Dislexia ou o Défice intelectual borderline) ou para as quais há uma baixa adesão à terapêutica e/ou baixo apoio escolar, podem tornar-se particularmente desafiantes e, se mal geridas, afetar o sucesso escolar.

Assim e sempre que possível, estas situações devem ser antecipadas, de modo que estes adolescentes não duvidem das suas capacidades e saibam como lidar de forma adequada com as expectativas e/ou frustrações que possam ter nesta fase.

Por outro lado, o secundário decorre a par e passo com a normal, e esperada, continuação do desenvolvimento biopsicossocial dos jovens, numa etapa de naturais distratibilidades, mas também de eventuais problemáticas, para as quais todos precisarão de estar particularmente atentos.

Esta é uma fase em que, alguns, perante sinais de alguma suscetibilidade individual, poderão beneficiar de uma avaliação da Psicologia clínica, antecipando, ou identificando precocemente, as situações que necessitem de uma intervenção específica e individualizada (https://escolasaudavelmente.pt/).

Não obstante, durante o ensino secundário, todos estes jovens devem ser estimulados e capacitados para a melhor prestação académica possível, de acordo com as usas capacidades, mas sem descurar a importância de outras atividades promotoras do seu bem-estar físico e psíquico, essências nesta importante fase das suas vidas.

Por outro lado, nesta fase, os adolescentes precisam de se tornar progressivamente mais autónomos, devendo ser estimulados e orientados para a progressiva autonomia na sua gestão financeira, na preparação de refeições, na limpeza da casa e/ou da roupa, entre outras atividades domésticas. Por fim, os adolescentes devem ainda aprender a atuar perante situações imprevistas, como a necessidade de recorrer aos cuidados de saúde, aos bancos ou aos serviços de apoio social, e a atualizar cartões de identificação, nomeadamente o cartão de cidadão, etc. ...

 A opção pelo ingresso no ensino superior

O plano para um ingresso no ensino superior, deve iniciar-se logo no 10º ano e pode ser dividido em 3 momentos principais: a preparação para o ingresso (em que o adolescente deve informar-se e procurar conhecer as opções formativas disponíveis, conhecer as datas/prazos das candidaturas, conhecer os eventuais pré-requisitos exigidos, fazendo-o com a autonomia necessária); a candidatura para ingresso; e o pós-ingresso (em que o jovem/adolescente poderá precisar de mudar de cidade, procurar habitação e iniciar a adaptação a um outro local onde irá viver).

- Preparação

Este primeiro momento é essencial para o sucesso dos seguintes. É importante refletir com o adolescente relativamente às opções disponíveis e o que vai ser necessário para atingir os objetivos propostos, de forma atempada e, idealmente, logo como o início do ensino secundário.

Existe muita informação disponível em sites oficiais, podendo ser consultada, por exemplo, através da Direção Geral do Ensino Superior, em DGES, ou https://www.dges.gov.pt/pt/pesquisa_cursos_instituicoes?plid=372.

Durante este processo, que normalmente demora tempo, o adolescente poderá recolher informações sobre os cursos/profissões que pondere como opções de carreira, quer através de antigos alunos/colegas de escola, como junto de profissionais que conheça dessas áreas, percebendo as saídas profissionais possíveis e as condições salariais previsíveis, entre outras informações que entendam pertinentes, de forma a verificar se são opções que correspondam, realisticamente, aos objetivos profissionais e pessoais que estão a definir.

Neste período, é também importante a exposição a diferentes experiências que visem incentivar o melhor conhecimento, e compreensão, das áreas de maior interesse de cada um. Esta exposição poderá ser complementada através de atividades de voluntariado ou pela participação em projetos oficiais e específicos para jovens (https://ipdj.gov.pt/programas).

Durante esta preparação, o adolescente necessita ainda de estar bem informado sobre as regras para uma futura candidatura (descritas em https://www.dges.gov.pt/guias/) e que se resumem aqui:

- Existem prazos para inscrição e realização dos exames nacionais;

- Alguns exames são necessários e consideradas provas de ingresso para determinados cursos;

- Há cursos que têm classificações mínimas, tanto nas provas de ingresso como na nota de candidatura;

- Sempre que exigidos, devem ser cumpridos os respetivos pré-requisitos (que podem ser condições de natureza física, funcional ou vocacional, e caso não cumpridos, podem ser eliminatórios), a consultar:

https://www.dges.gov.pt/pt/pesquisa_cursos_instituicoes?plid=372

- Candidatura

Nesta fase é importante ter em conta as regras que vão sendo implementadas. Tem existido um “Guia Geral de Exames” da DGES, que compila a informação mais importante, e que pode ser acedido através do link Acesso ao Ensino Superior 2023 - Índices de Cursos (introdução) (dges.gov.pt).

Há diversos locais e formas para se realizar a candidatura ao ensino superior, inclusive via online (https://www.dges.gov.pt/online).

- Pós-ingresso

Este é outro momento de alguma ansiedade para pais e filhos pois, para além de estar associado a uma mudança na dinâmica familiar, pode associar-se à necessidade da procura, num curto espaço de tempo, de uma nova habitação, numa “nova” cidade, muitas vezes consideravelmente afastado da casa da família. Trata-se de uma situação que pode ser antecipada, devendo ser tratada com a antecedência possível.

Já no enquadramento do curso superior que comece a frequentar, a participação nas atividades de início do ano letivo pode ser muito útil, e deve ser incentivada, para melhor conhecer e se integrar no novo grupo de pares que se irá estabelecer. Contudo, não devem ser esquecidos os cuidados antecipatórios (descritos no “O ensino secundário …”), que permitam aos jovens fazerem esta integração no “mundo” académico de forma adequada, saudável e com toda a segurança.

A opção pelo ingresso no ensino superior público militar e policial

Esta opção apresenta regras, datas de candidatura e pré-requisitos específicos, que devem ser conhecidos. Existe muita informação disponível em:

- https://academiamilitar.pt/admissao/am.html

- https://www.policiajudiciaria.pt/wp-content/uploads/2020/07/NovasFaqsProcedimentosConcursais.pdf

- https://www.policiajudiciaria.pt/procedimentos-concursais/

- https://recrutamento.gnr.pt/CondAcesso.aspx

- https://www.psp.pt/Pages/recrutamento.aspx

- https://www.academiafa.edu.pt

- https://crfa.emfa.pt/

O mercado de trabalho

Caso a opção, assim que terminar o secundário, seja o ingresso no mercado de trabalho, como poderá ser o caso, mais previsível, daqueles que tenham optado pelo ensino profissional, pode ser útil a consulta das muitas opções de trabalho disponíveis, por exemplo, consultando a informação disponível através do Instituto do Emprego e Formação Profissional, em https://www.iefp.pt.

Tal como já referido anteriormente, existem também programas de verão (https://ipdj.gov.pt/programas) que poderão ser uteis, não só para ganhar experiência, como também para obter algum rendimento extra.

Ainda antes de completar os 18 anos, desde que já tenha cumprido a escolaridade obrigatória ou esteja matriculado no ensino secundário, o adolescente poderá trabalhar e ser remunerado, por exemplo através de empregos temporários de verão, em campos de férias, como nadador salvador (para este, precisará de uma certificação, mais informações em https://www.amn.pt/ISN/Paginas/curso.aspx), entre muitas outras opções.

O ingresso no mercado de trabalho, após conclusão do ensino profissional, é uma etapa que também pode associar-se a alguma ansiedade e que, por vezes, pode fazer com que os adolescentes se sintam “perdidos”. Como tal é importante passar a mensagem de que, assim que concluam o secundário, podem/devem:

1. inscrever-se no Instituto de Emprego e formação profissional (https://www.iefp.pt).

2. Procurar ofertas de trabalho em:

● https://iefponline.iefp.pt/IEFP/pesquisas/search.do?cat=ofertaEmprego

● Jornais, redes sociais, empresas das áreas pretendidas, etc.

Mensagens-chaves:

A projeção futura e as decisões sobre o ingresso no ensino secundário/profissional e, posteriormente, no ensino superior/mercado trabalho, pode associar-se a incertezas, ansiedade e instabilidade emocional. Assim, é importante que os profissionais de saúde estejam capacitados para informar e aconselhar os adolescentes nesta importante etapa das suas vidas.

Bibliografia

1 - https://www.economias.pt/testes-psicotecnicos-online-gratis/

2 - https://www.universia.net/pt/actualidad/empleo/testes-psicotecnicos-tudo-o-que-precisa-saber-estar-minimamente-preparado-1166992.html

3 - https://www.dges.gov.pt/guias/

4 - https://www.dges.gov.pt/pt/pesquisa_cursos_instituicoes?plid=372

5 - candidaturaonline: https://www.dges.gov.pt/online

6 - cursostécnicos superiores: https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/cursos-tecnicos-superiores-profissionais

7 - cursosprofissionais: https:// anqep.gov.pt/np4/cursos_profissionais.html

8 - https://ipdj.gov.pt

9 - https://ipdj.gov.pt/programas 

10 - https://forum.pt/escolas/ja-sabes-que-area-queres-seguir

11 - uniarea.com

12 - start.pt_

13 - https://sites.google.com/view/startmentoria/start?authuser=1

14 - https://inspiring.future.pt/articles/qual-e-o-melhor-curso-para-mim

15 - https://www.e-konomista.pt/como-escolher-um-curso-superior/

16 - https://www.publico.pt/2016/07/18/sociedade/noticia/como-escolher-um-curso-superior-os-conselhos-dos-especialistas-1738422

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