Autores:
João Henrique, Interno de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, Unidade de Saúde Familiar Tondela.
Alzira Ferrão, Assistente Graduada Sénior de Pediatria, Centro Hospitalar Tondela-Viseu.
Vivemos numa sociedade em que estamos constantemente a ser observados e avaliados. Ouvimos continuamente alguém elogiar: “Uau, estás o máximo!”, se perdemos peso ou usamos uma roupa “fashion”.
Parece até que, não ser magro, pode ser igual a ser feio, pouco apto, ou ter até um problema qualquer. Chega-se a ouvir isto: “tem peso a mais, mas até é simpático ou… até é boa pessoa!”.
Como se ter peso a mais não fosse um problema de saúde, mas uma falha do próprio e "o resto” compensasse. O peso não está diretamente ligado à competência, à bondade e muito menos resume quem nós somos. A imagem corporal é criada na cabeça do adolescente: como é o seu corpo e a sua aparência, qual deve ser o peso adequado, a altura, as dimensões das várias partes do corpo, o seu funcionamento e como imaginam que os outros o veem, principalmente os seus pares.
Habitualmente a média de idade de início da puberdade é aos 10,5 anos no sexo feminino e os 11,5 anos no sexo masculino e decorre num período de 3 a 5 anos. Deve-se ter em conta que, na puberdade, há uma ampla variação da normalidade. Durante a puberdade ocorre um aumento da velocidade de crescimento, mas este é desarmonioso e desproporcionado.
Devido às mudanças físicas da puberdade, o adolescente experimenta uma grande insegurança e preocupação a respeito da sua imagem corporal e aparência. As mudanças no seu corpo mudam a sua imagem e a imagem que tem de si mesmo. Isto também se explica pela dificuldade em ter consciência dos limites do corpo, “sempre contra tudo que encontra no caminho”. Sente-se estranho dentro do seu novo corpo, compara-se e questiona-se constantemente se é normal. O conceito de identidade também está relacionado com a confiança, valorização pessoal e sentir que os outros têm expetativas positivas sobre ele.
É um período da vida associado a muitas inquietações relativas à imagem corporal, sendo esta uma questão central, porque desta emergem muitas outras questões, como por exemplo a consciência de ser avaliado pelos outros e rejeitado ou aceite. Os pais deverão contribuir com a criação de vínculos afetivos estáveis e positivos, que permitam ao adolescente, no processo desarmónico do crescimento pubertário, encontrar a harmonia na construção de uma nova imagem corporal. Acima de tudo, o adolescente procura um corpo que idealiza, que goste de ver, que os outros gostem de ver e conhecer, mas também a aceitação pelos seus pares.
Um dos preconceitos mais poderosos ligados à imagem, é a ideia generalizada de que, o que é magro, será o mais bonito e até o mais competente, pelo que é feito constantemente o julgamento baseado na aparência física. As redes sociais e os media têm vindo a mudar a forma como os adolescentes interagem e comunicam, acabando por passar uma parte importante do seu dia ligados ao mundo por via de um ecrã. Assim, torna-se essencial explorar com o adolescente o tempo do uso de ecrãs, que assuntos pesquisam nas redes e plataformas, convidá-lo a mostrar algum ídolo/grupo musical/youtubers que seguem, tentar perceber como poderão estar a influenciá-lo durante esta fase de desenvolvimento.
As redes sociais têm ainda outro “senão” no que concerne ao seu uso, tendo em conta que estas exploram diretamente a imagem, levando muitas vezes ao tratamento discriminatório relativamente ao aspeto físico, ao que se anexa a roupa que se veste, mais uma série de desqualificações…“O que eu sou e o que eu gostaria de ser?” – pergunta tantas vezes feita a si próprio, pelo adolescente, na solidão do seu quarto. E, essa autoavaliação pode ser uma ameaça para a sua autoestima. Quando se tem uma imagem corporal negativa, sente-se vergonha e assume-se que os seus pares são mais atraentes e mais competentes do que ele. Devemos reforçar com os pais que o adolescente é muito sensível à crítica do corpo, pela família (e não só pelos pares), por isso devem evitar comentários como “estás a ficar gorda ou estás muito magra”.
A imagem que o adolescente tem de si próprio desempenha um papel muito importante, enquanto fator de risco no decurso da adolescência. A insatisfação corporal pode levar a problemas de baixa autoestima, ansiedade, isolamento, depressão, perturbações do comportamento alimentar e a comportamentos de risco.
Para atingir aquele “corpo idealizado e perfeito”, o adolescente fixa-se em alterar a sua aparência física e pode inclusive, ficar refém dos excessos e desse projeto que ele acha que trará coerência à sua vida.
A preocupação com a imagem corporal diverge quanto aos rapazes, que se centram mais na parte superior do corpo e na altura, enquanto que as raparigas se focam mais na parte inferior do corpo, no desejo de ser mais magra e por isso, preocupam-se mais com o peso e tamanho da roupa. São sinais de alarme, o não querer despir-se na observação, não querer olhar o peso na balança ou ficar fixado nele, usar roupa excessivamente larga, mudanças súbitas de visual e aparência (verificar questões de identidade sexual), isolamento ou mudança de amigos, atividade física intensa e desejo de tomar suplementos (rapazes), evitar toma de contracetivo hormonal oral (medo de engordar), evitar questões sobre alimentação, não querer trocar de roupa ou tomar banho nos balneários.
O diálogo com o adolescente deve incidir sobre como ele se sente com o corpo a crescer, sobre o comportamento alimentar saudável e não no peso e se tem alguma dúvida em relação ao seu crescimento, que gostasse de ver esclarecido. Introduzir tópicos de conversa, como por exemplo: o que gostas em ti? E no teu corpo? O que mudarias na tua opinião? Sentes que os outros criticam o teu corpo? Gostarias de ser parecido com alguém? Algum ídolo? Vão-se abrindo assim, as portas para o diálogo e para a confiança nos profissionais de saúde.
Deve haver especial atenção quanto aos rastreios do índice de massa corporal no contexto escolar, que podem precipitar situações problemáticas nos adolescentes, que já naturalmente se comparam permanentemente entre si. Verificar sobretudo em desportos em que o peso é valorizado, como a dança, artes marcais, ginástica… As avaliações deverão ser realizadas por profissionais de saúde, em contexto de consulta.
Devemos ser comedidos nos comentários, evitando expressões que podem ser interpretadas pelo adolescente como depreciativas quanto ao peso ou à sua forma corporal. O impacto destes comentários é real e pode ser muito negativo. Uma imagem corporal saudável significa que se está confortável com o corpo que se tem, que se cuida dele, que se aceita esse corpo, que se respeita a diversidade.
O valor do adolescente não é algo mensurável ou definido em função do peso ou das características físicas. O valor de cada um é intrínseco, de dentro para fora. Devemos destacar os pontos fortes, como por exemplo a valorização do adolescente como pessoa, as suas capacidades, a sua participação na sua saúde, que ajudarão a estabelecer uma relação de confiança e a aceitação da mudança.
- Devido às mudanças físicas da puberdade, o adolescente experimenta uma grande insegurança e preocupação a respeito da sua imagem corporal e aparência.
- A insatisfação corporal pode levar a problemas de baixa autoestima, ansiedade, isolamento, depressão, perturbações do comportamento alimentar e da ingestão e a comportamentos de risco.
- Uma imagem corporal saudável significa que se está confortável com o corpo que se tem, que se cuida dele, que se aceita esse corpo, se respeita a diversidade.
- O valor do adolescente não é algo mensurável ou definido em função do peso ou das características físicas.
Bibliografia:
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- Como a moda influencia o comportamento dos adolescentes. Jose Luis Iglesias. Edição em revista Adolescere, volume III(1):57-66. janeiro-fevereiro de 2015 Nº1.
- Preventing Obesity and Eating Disordersin Adolescents. Pediatrics Sep 2016, 138 (3)
- Necesidades en la adolescencia F. López Sánchez. Catedrático de Psicología de la Sexualidad Universidad de Salamanca. ADOLESCERE • Revista de Formación Continuada de la Sociedad Española de Medicina de la Adolescencia • Volumen IV • Mayo 2016 • Nº2 . Pág.81-91
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