Autores:
Cláudia Silva, especialista em MGF, membro do GESIJ a
A higiene é uma parte essencial dos cuidados diários de um adolescente, com impacto na sua saúde individual e na saúde pública. Uma meta-análise que avaliou cerca 182 mil adolescentes (12 a 15 anos) de 75 países concluiu que 7,4% não lavava as mãos antes de se alimentar e 5,9% não as lavava após utilizar a casa de banho. 8,6% nunca lavava os dentes.1
A comunicação sobre este tema deve ser simples, livre de crítica e adaptada ao contexto social e familiar, mas também ao estadio de desenvolvimento do adolescente.
Algumas informações importantes sobre a higiene do adolescente:
É importante que os adolescentes mantenham uma boa higiene pessoal como medida preventiva de saúde e desenvolvimento do auto cuidado. Isto irá incluir a toma de banho regular, para manter a pele limpa e evitar odores desagradáveis, o que pode ter implicações na vida social.
A higiene das áreas onde é libertado mais suor, como axilas, virilha e outras pregas, deverá ser diária. Deve ser promovida a utilização de desodorizante sem alumínio nas axilas, sem recurso a antitranspirantes.
A higiene das mãos deverá ser realizada sempre que haja possibilidade de contaminação (por ex. após ida à casa de banho), antes da ingestão de alimentos ou do toque em mucosas (por ex. aquando da colocação de um aparelho dentário ou da colocação do anel vaginal).
Os sapatos devem ser adequados, devidamente ventilados e trocados regularmente. As meias devem ser de algodão e adaptadas às atividades diárias (nomeadamente a atividade física). Nas atividades aquáticas devem sempre ser utilizados chinelos nos balneários e deslocações entre instalações.
As alterações hormonais que ocorrem podem aumentar a oleosidade do cabelo.
A frequência da lavagem do cabelo irá depender das características individuais do cabelo e da pele do couro cabeludo, e poderá haver necessidade de apoio médico. Preferencialmente, deverá ser usada água morna e uma pequena quantidade de champô adequado às características da pele e cabelo.
O amaciador de cabelo tem a função de facilitar a passagem da escova e aumentar o brilho. Podem ter interesse de acordo com as necessidades individuais.
Qualquer produto que cause inflamação do couro cabeludo deverá ser evitado.
Deve ser evitada a (des)coloração do cabelo com produtos químicos não específicos para essa função e protetores do cabelo. A utilização de chapéus e gorros deve ser restrita às atividades que impliquem o seu uso, geralmente no exterior.
A escovagem dos dentes deve ser realizada pelo menos duas vezes por dia, sendo uma delas obrigatoriamente antes de ir dormir, uma vez que a redução da função oral e da salivação aumentam o risco de cáries e do surgimento de mau odor oral. A pasta de dentes deve conter flúor na concentração de 1000-1500 ppm e a utilização da fita dentário deve complementar pelo menos uma escovagem. Cáries dentárias e doenças das gengivas devem ser avaliadas em todas as consultas do adolescente e tratadas com o apoio de médico dentista/ estomatologista.
O adolescente pode ter acesso a cheques-dentista, atribuídos pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) com o objetivo de facilitar o acesso aos cuidados de saúde oral.2
Alguns destes cheques-dentista são atribuídos através da escola (nomeadamente aos 10 e 13 anos). Entre estas idades, pode ser atribuído – tendo sido cumprido o plano de tratamento previsto para os atribuídos previamente – e na presença de lesões, 1 cheque-dentista pelo médico de família ou assistente técnico, após identificaçõ da lesão pelo médico de família.
O aumento da oleosidade da pele que pode acontecer nesta altura implica que haja cuidados adicionais.
A higiene do rosto deve ser realizada diariamente com um gel de limpeza suave e com poucos ingredientes.
Eventuais pústulas não devem ser manipuladas pelo risco de sobreinfeção, agravamento ou aparecimento de cicatrizes ou manchas. O surgimento de acne poderá justificar a prescrição de medicamentos tópicos e/ou orais. O tratamento escolhido terá em conta a severidade da acne.
Caso esteja a realizar tratamento com retinoides, a higiene da face deve ser realizada diariamente com um gel de limpeza adaptado a peles com tendência a acneica, complementada com hidratante da mesma linha. A hidratação/ proteção labial é aconselhada durante estes tratamentos.
É de evitar o uso excessivo de maquilhagem e, sendo utilizada, ser isenta de produtos comedogénicos ou irritativos.
Nas lesões de intertrigo, devem ser aplicados agentes tópicos específicos, em particular nos adolescentes obesos. As roupas em contato com a pele, nomeadamente a roupa íntima, devem ser de algodão evitando microfibras.
O adolescente deve evitar roer as unhas, mantendo-as limpas e cortadas, para evitar infeções.
A adolescente deve ser informada sobre os cuidados durante a menstruação no que respeita a uso de soluções para lavagem dos genitais e dispositivos externos (pensos ou cuecas) ou internos (tampões ou coletores “copo vaginal”). A utilização dos últimos implica que a adolescente se sinta confortável com o seu corpo.
Importa ainda que esteja devidamente informada sobre a correta utilização (aplicação/ remoção) e substituição a cada 4-8h no caso do tampão ou de acordo com as recomendações da marca (em geral, até 12h) no copo coletor, de forma a evitar infeções, odor desagradável e manchas na roupa. A higienização adequada do copo também é essencial.
As mãos devem ser higienizadas antes e depois de trocar o absorvente ou o coletor.
A região genital deve ser mantida limpa e seca para evitar infeções e dermatites.
As roupas íntimas devem ser confortáveis e de um tamanho que não aperte, preferencialmente de algodão, lavadas regularmente e deixadas a secar no exterior.
Deve ser explicado à adolescente que ao longo do seu ciclo menstrual existem alterações do corrimento, que são normais e podem surgir na roupa interior. Deve ser evitado o uso de penso para evitar esta situação, uma vez que interfere com as características da vagina e pode aumentar o risco de infeções. Uma alternativa, se a quantidade de corrimento for superior à expectativa da adolescente, poderá ser a utilização de cueca absorvente nos dias em que tal for necessário.
A utilização de produtos específicos de higiene íntima não é obrigatória, podendo ser utilizada para efeitos específicos. Sendo utilizados, devem ser escolhidos produtos testados clinicamente e sem impacto negativo na microbiota vaginal.
De acordo com o contexto e estadio de desenvolvimento, podem surgir na consulta dúvidas sobre masturbação, contraceção e brinquedos sexuais. Estes também devem ser higienizados adequadamente, mesmo que só utilizados por uma pessoa. Se partilhados, protegidos e adequadamente limpos entre utilizações.
A consulta é uma oportunidade de transmitir práticas adequadas de higiene, com impacto na prevenção de doença e na promoção da saúde do adolescente e das pessoas com quem contacta diariamente.
A alteração da oleosidade da pele, dos odores, das formas de contacto e da auto-imagem tornam este tema de particular importância na adolescência.
1 - Han L, Gao X, Liao M, Yu X, Zhang R, Liu S,Zeng F. Hygiene practices among young adolescents aged 12-15 years in low- and middle-incomecountries: a population-based study. J Glob Health. 2020;10(2):020436.
2 - https://www.saudeoral.min-saude.pt/pnpso/public/index.jsp
a MGF – medicina geral e familiar | GESIJ – grupo de estudos de saúde infantil da Associação Portuguesa de MGF.
Deixe a sua sugestão
spma.spp.2000@gmail.com
Ligações úteis
Sociedade Portuguesa de Medicina do Adolescente
Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
GSK
Siga-nos
Uma iniciativa de:
Apoio:
Este conteúdo é da exclusiva responsabilidade da SPMA e da APMGF.