Autores:
Inês Campos Pinto, Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, Membro do GESIJ, USF Ria Formosa – Faro;
Ana Rita Correia, Assistente em Medicina Geral e Familiar, USF Ria Formosa – Faro
A hepatite A é a causa mais frequente de hepatite aguda no mundo, sendo provocada pelo vírus da hepatite A (VHA). A via de transmissão é, quase exclusivamente, fecal-oral, podendo ser transmitida através do consumo de água ou alimentos contaminados, do contacto direto com pessoas infetadas ou contacto sexual.
O VHA apresenta uma distribuição mundial, com particular incidência em regiões com menos condições sanitárias. Na região africana, asiática e da américa do sul, a seropositividade é quase universal.
A infeção na criança é geralmente benigna e, muitas vezes assintomática, sendo a prevalência de falência hepática aguda inferior a 1:1000 casos. No adulto e em determinados grupos de risco (p.e.: viajantes para regiões endémicas, homens que fazem sexo com homens, consumidores de drogas, VIH, doença hepática crónica) poderá observa-se maior morbilidade e até mortalidade significativa.
A infeção não evolui para a cronicidade e confere imunidade vitalícia. No entanto, a gravidade da doença é diretamente proporcional ao aumento de idade, em particular naqueles com doença hepática crónica.
O diagnóstico baseia-se na clínica e estudo serológico. O período médio de incubação é entre 28 a 30 dias, podendo variar entre 15 e 50 dias. A infecciosidade máxima ocorre na segunda metade do período de incubação (fase assintomática), sendo a maioria dos casos considerada como não infeciosa após o momento em que a pessoa apresenta sinais e/ou sintomas.
Imagem 1. Progressão dadoença, em semanas (Hepatitis A, Medscape, 2019)
O VHA tem excreção fecal em elevadas concentrações desde 2 a 3 semanas antes, e até 1 semana após o aparecimento dos sintomas. As crianças e os imunocomprometidos podem eliminar o vírus nas fezes durantes vários meses.
A infeção pode ser assintomática, subclínica ou manifestar-se através de um quadro agudo, habitualmente autolimitado, podendo condicionar febre, icterícia, colúria, astenia, mal-estar, anorexia, náuseas, vómitos, diarreia e dor abdominal.
A frequência e gravidade depende, normalmente, da idade. Tende a ser sintomática em cerca de 30% dos casos de crianças com idades inferiores a 6 anos, mas em crianças mais velhas, adolescentes e adultos provoca, regra geral, hepatite aguda sintomática com icterícia em mais de 70% das situações.
As vacinas contra a hepatite A disponíveis em Portugal são ambas monovalentes, contendo VHA inativado. Existe a Havrix® (GSK) e a Vaqta® (MSD) cuja eficácia e segurança são sobreponíveis.
O esquema de qualquer uma das vacinas é de duas doses intramusculares, com 6 a 12 meses de intervalo (ver imagem 1):
No caso de se verificar atraso na administração da segunda dose não é necessário recomeçar o esquema vacinal
A Vaqta® pode ser administrada ao mesmo tempo que as vacinas do PNV.
Podem ser usadas como profilaxia pós-exposição, nos 14 dias seguintes ao contacto. Apresentam resultados sobreponíveis à imunoglobulina, com a vantagem do baixo custo e de não ser um hemoderivado.
Existe, ainda, a vacina combinada anti-VHA e anti-VHB, a Twinrix® (GSK), cujo interesse tem vindo a declinar pela alta cobertura vacinal contra a hepatite B dos recém-nascidos e adolescentes. O esquema de imunização desta vacina requer 3 doses, aos 0-1-6 meses.
A Havrix® pode ser administrada a pessoas com VIH.
Consulte aqui a tabela 1.
Deve ser adiada nas situações de síndrome febril grave.
Não está recomendada abaixo dos 12 meses de idade, porque no primeiro ano de vida, os anticorpos maternos, caso existam, podem neutralizar a vacina.
Precaução em indivíduos com trombocitopenia ou outra alteração da coagulação, pois a via de administração pode causar hemorragias.
Em hemodialisados e imunocomprometidos podem não ser atingidos os títulos de anticorpos anti-VHA adequados, podendo ser necessário administrar doses adicionais de vacina.
Os efeitos laterais destas vacinas são sobretudo locais.
Podem ser administradas a par de outras vacinas do PNV.
Recomendações para administração de vacina anti-VHA:
• Candidatos a transplante hepático
• Hemofílicos
• Quem viaje para países com endemicidade intermédia ou alta
• Com patologia hepática crónica;
• Com VIH;
• Com contacto próximo (coabitantes e contato sexual) com doente com Hepatite A (profilaxia pós-exposição) - uma única dose de vacina
• Adolescentes com comportamentos sexuais de risco para transmissão de VHA, em particular no contexto de surtos (sexo anal, sexo anal-oral sobretudo sexo entre homens)
Não existe risco acrescido de vacinação em indivíduos previamente imunizados pela infeção natural.
1 - RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO 1. NOME DO MEDICAMENTO [Internet]. [cited 2023 May 4]. Disponível em: https://gskpro.com/content/dam/global/hcpportal/pt_PT/PDF/havrix-ad-ped-rcm.pdf
2 - Pediatric Hepatitis A: Practice Essentials, Background, Pathophysiology. eMedicine [Internet]. 2022 Mar 15 [cited 2023 May 4]; Disponível em: https://emedicine.medscape.com/article/964575-overview
3 - Hepatitis A Clinical Presentation: History, Physical Examination [Internet]. emedicine.medscape.com. [cited 2023 May 4]. Disponível em: https://emedicine.medscape.com/article/177484-clinical
4 - Recomendações sobre vacinas [Internet]. [cited 2023 May 4]. Disponível em:https://www.spp.pt/UserFiles/file/Comissao_de_Vacinas/Recomendacoes_sobre_vacinas_2010_novo.pdf
5 - Recomendações vacinas – Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante [Internet]. [cited 2023 May 4]. Disponível em: https://spmv.simposium.pt/media/13961/Recomendacoes_Vacinas_SPMV_Ed01-2018.pdf
6 - Folheto informativo: informação para o utilizador [Internet]. [cited 2023 May 4]. Disponível em: https://msd.psales.pt/wp-content/uploads/2019/05/Vaqta-25-PFS_FI_2018.11.08-2.pdf
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